Marcia Carmo
Data de publicação indisponível
Atualizado em 7 de dezembro, 2011 - 10:12 (Brasília) 12:12 GMT
Os países vizinhos do Brasil estão apreensivos com o desempenho da economia brasileira. Os sinais de desaceleração ficaram claros com a divulgação do resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre deste ano, que registrou variação zero em relação ao trimestre anterior, de acordo com o IBGE.
"O que acontece no Brasil hoje afeta diretamente a economia argentina. A crise na Europa ainda é para nós um fato distante. Por isso, o resultado do PIB merece nossa atenção. Se o Brasil vai bem, podemos exportar mais para seu mercado", disse o economista argentino Diego Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de Buenos Aires.
Outro economista argentino, Raúl Ochoa, especialista em comércio exterior e professor da Universidade de Buenos Aires (UBA), disse que a estagnação da economia brasileira era esperada. Com a desaceleração, vem à tona o temor do empresariado argentino com uma eventual "invasão" de produtos brasileiros no país vizinho.
"A economia argentina depende da economia brasileira. Hoje, mais de 20% das exportações argentinas vão para o Brasil. Se o Brasil cresce menos, compra menos, e pior, como temem os empresários, pode exportar para a Argentina o que não está vendendo em seu próprio mercado"
Raúl Ochoa, economista"A economia argentina depende da economia brasileira. Hoje, mais de 20% das exportações argentinas vão para o Brasil. Se o Brasil cresce menos, compra menos, e pior, como temem os empresários, pode exportar para a Argentina o que não está vendendo em seu próprio mercado", disse.
No Brasil, o Ministério da Fazenda estima crescimento de 3,2% para 2011 e de entre 4% e 5% para 2012.
As previsões do Ministério da Economia da Argentina para 2012 são de 5% de expansão.
Setor automotivo
O comércio entre os dois países vinha bem neste ano. Segundo a consultoria Abeceb, de Buenos Aires, divulgados na semana passada, o comércio Brasil-Argentina registrou resultados recordes em novembro deste ano, frente a 2010.
Mas no mesmo mês veio uma luz amarela, de alerta, com a queda no desempenho do setor automobilístico. Na segunda-feira, a Associação de Fábricas de Automóveis (Adefa) informou que as exportações do setor caíram 17,8% em novembro na comparação com o mesmo mês de 2010.
O Brasil, como lembrou o economista Marcelo Elizondo, absorve 80% das exportações do setor automotivo argentino.
"É dependência demais e por isso sempre estamos atentos à economia brasileira e igualmente a da China, principal compradora da soja argentina", disse.
Paraguai
Economia brasileira teve crescimento nulo no terceiro trimestre de 2011, impactando vizinhos
No Paraguai, segundo assessores do Ministério da Fazenda, o governo já tinha reduzido a previsão de crescimento econômico de 2011, de olho no desempenho do Brasil.
A economia paraguaia também terá crescimento menor por causa do impacto da febre aftosa no gado local, que reduziu as exportações do país.
"Antes da aftosa, a previsão era de um crescimento econômico de 6,5% em 2011. Mas com a menor venda de carne para a Rússia, Chile e Brasil tivemos que rever este dado reduzindo a previsão para 4,5% este ano. Em 2012, esperamos entre 3,5% e 4% porque a retomada da confiança dos compradores de carne pode demorar um ano", disse um assessor do Ministério.
"Se o Brasil cresce menos, nos afeta diretamente"
Fernando Masi, do Centro de Análises e de Difusão da Economia Paraguaia
O economista paraguaio Fernando Masi, do Centro de Análises e de Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), de Assunção, disse que o país exporta mais de 20% da sua produção para o Brasil.
"Se somarmos os produtos de outros países enviados daqui para o Brasil este índice salta para 40%. Ou seja, se o Brasil cresce menos nos afeta diretamente", disse Masi.
Uruguai
No Uruguai, a situação é, até o momento, diferente, segundo assessores do Ministério da Economia.
A previsão oficial é que o país crescerá este ano acima do previsto, registrando 6% de expansão e não os 4,5% anteriormente esperados, de acordo com dados de setembro, últimos disponíveis.
"O aumento constante do Investimento Estrangeiro Direto (IED), com alta de 30% em seis anos, é um dos principais motores da nossa economia hoje. Mas claro que sempre estamos atentos ao que acontece no Brasil", disseram.
Para muitos especialistas, o Brasil, com a maior economia da América Latina, é hoje a "locomotiva" da região.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/12/111206_economia_brasil_argentina_paraguai_uruguai_mc.shtml
RESENHA:
Brasil e países vizinhos: a desaceleração econômica a preocupação com a balança comercial
O título da notícia publicada pela BBC descreve “Desaceleração da economia brasileira preocupa vizinhos”, este fato é relacionado ao processo de capitalismo que trouxe as diferenças de dependência econômica cada vez maior entre os países.
Com a ascensão do capitalismo, as diferenças de ordem econômica entre os países foram se tornando cada vez mais acentuadas. Um exemplo é que no início do século XX, os países desenvolvidos emprestavam capital e vendiam equipamentos de infra-estrutura moderna para os países subdesenvolvidos intensificando a sua dependência econômica e forçando-os a aumentar suas exportações para pagar suas importações.
Alguns economistas explicam essa dependência econômica entre o Brasil e os países vizinhos (Argentina, Uruguai e Paraguai).
"A economia argentina depende da economia brasileira. Hoje, mais de 20% das exportações argentinas vão para o Brasil. Se o Brasil cresce menos, compra menos, e pior, como temem os empresários, pode exportar para a Argentina o que não está vendendo em seu próprio mercado" (Raúl Ochoa especialista em comércio exterior e professor da Universidade de Buenos Aires; 2011)
"É dependência da economia brasileira para os argentinos é demais e por isso sempre estamos atentos à economia brasileira e igualmente a da China, principal compradora da soja argentina" (economista Marcelo Elizondo; 2011)
"Se somarmos os produtos de outros países enviados daqui para o Brasil este índice salta para 40%. Ou seja, se o Brasil cresce menos afeta diretamente o Paraguai" (Fernando Mais, Economista paraguaio do Centro de Análises e de Difusão da Economia Paraguaia (Cadep), de Assunção; 2011)
Segundo assessores do Ministério da Economia Uruguaia, "O aumento constante do Investimento Estrangeiro Direto (IED), com alta de 30% em seis anos, é um dos principais motores da nossa economia hoje. Mas claro que sempre estamos atentos ao que acontece no Brasil", disseram.
"O que acontece no Brasil hoje afeta diretamente a economia argentina. A crise na Europa ainda é para nós um fato distante. Por isso, o resultado do PIB merece nossa atenção. Se o Brasil vai bem, podemos exportar mais para seu mercado". (Economista argentino Diego Giacomini, da consultoria Economia e Regiões, de Buenos Aires, 2011)
Percebe-se entre as afirmações dos economistas, a preocupação com as importações e exportações, ou seja, uma grande preocupação com a balança comercial, esta, representada por tudo que o país – ou um determinado setor da economia – exporta (vende a outros países) e importa (compra dos mercados externos). Já o saldo da balança comercial é a diferença de tudo que foi vendido e comprado pelo país. Esse resultado pode ser positivo (Superávit) - quando o país mais vende para os outros países de que compra, ou negativo (Déficit) - quando as exportações ficam menores do que as importações. A grande preocupação com essa balança pode-se ser explicada pelos seguintes fatores: 1) As vendas de produtos de um país para o exterior tendem a trazer recursos estrangeiros para o mesmo e a gerar mais empregos, pois estimulam a produção e contratações de novos funcionários para atender a demanda dos mercados externos. 2) Já as importações, embora estimulem a concorrência com os produtos fabricados no país e ajudem a melhorar os preços para o consumidor, tendem a prejudicar a indústria doméstica, o que pode causar reflexo negativo na economia e no mercado de trabalho.
Portanto, caso o Brasil desacelere a economia, para a mesma tentar restabelecer-se vai gerar o aumento de importações aos países vizinhos, que por questões de localização geográfica próxima ao Brasil, vai ocorrer um grande fluxo de importação o que irá prejudicá-los economicamente, gerando o déficit da balança comercial.
Por Caroline Freitas.
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